Na batida do Funk

18:00

A cada fim de semana, o Black Rio faz a festa nos clubes do subúrbio.



Qual a principal diversão dos jovens dos subúrbios cariocas? O ibope do futebol há muito anda no chão, e o Maracanã está às moscas. A perspectiva de um domingo de sol ainda arrasta muitos deles para as praias da Zona Sul. Mas, em matéria de lazer, nada consegue rivalizar com os bailes funk. São mais de 600 mil pessoas que a cada fim de semana lotam os clubes. Pelo menos segundo a contabilidade de Rómulo Costa, um dos donos da Furacão 2000.

“É a principal diversão de massa da cidade”, garante.

Bonezinho verde-limão luminoso, cabelo enroladinho em forma de mola e colares dourados no pescoço. Este quase uniforme veste boa parte dos funkeiros que lotam os bailes nos fins de semana. O figurino às vezes incomoda certos organizadores dos bailes e DJs, como Max Peu, da equipe Soul Grand Prix.

“Estamos tentando mudar isso porque é urna forma de se marginalizar. Nos bailes, damos nosso recado para atingir o ego dos caras. Tentamos fazer com que eles venham mais bem-vestidos. Nada de short ou sandália”, avisa Peu.

Estigmatizados como violentos, os bailes funk na opinião dele não merecem a fama que tem.

“Já vi brigas na Babilónia mais feias do que cm baile dc pobre”, conta.

Na verdade, o mapa do funk no Rio é mais variado e colorido do que se pensa. De baile para baile, o clima, as roupas e até a música mudam. No CCIP, Centro de Comércio e Indústria de Pilares, os bailes costumam ser mais do que animados. Munido de um cassetete de quase um metro de comprimento, seguranças tentam administrar a entrada das galeras do Engenho da Rainha, Iriri, Fumacê, Vintém e outros morros e favelas das redondezas. A revista na entrada é uma rotina que não incomoda ninguém. Na quadra cheia, a multidão não deixa espaço para qualquer passo mais elaborado. Só dá para pular e disputar com outras galeras no grito — “é Iriri, é Iriri!” — e, eventualmente, no tapa.
 
Há bailes mais tranquilos. São os procurados por Antônio Marcos Pereira, 15 anos e seu primo Renato Moura Pedro, 17. Eles moram em Nilópolis e gostam de funk. Mas não de confusão. Os dois trabalham em uma gráfica de dia e estudam à noite. Nos fins de semana, estão nos clubes, geralmente no Ideal de Olinda. 
 
“Não andamos em bando para evitar violência”, explica Renato.
 
Os dois ouvem funk desde os 10 anos e, em casa, maltratam os ouvidos da mãe com os sucessos do grupo 2 Livre Crew. 
 
“Ela não tem para onde correr. Tenho duas irmãs que ouvem funk o tempo todo”, explica.
 
Também viciada em funk é a dupla Vandré Lima Pereira, 18 anos, o Tchello e o amigo Mesiano de Souza Rezende, o Billy. Ambos fazem parte da Star Blue, a equipe de dançarinos da Furacão 2000.
 
No Rio, há cerca de 100 equipes de som, calcula Jorge de Carvalho Alves, presidente da associação que reúne boa parte das equipes cariocas. Elas se cotizam para realizar programas como Som: na caixa (TV Corcovado, 2ª a 6ª, às 13h45) e Clube do som (Rádio Manchete, 2ª a 6ª, às 12h45). 
 
“Os bailes são a única opção de lazer no subúrbio, e o funk representa um movimento social muito profundo”, explica Jorge.
 
Pelas suas contas, 95% desses bailes são dominados pelo ritmo do funk e o resto se divide entre O House e o charme. O estudante Evandro Santos, 25 anos, sentiu-se deslocado ao fazer uma incursão em um baile funk.
 
“Eu estava tão bem-vestido que o pessoal ficou me estranhando”, reclama.
 
Nos bailes de charme toda sexta no Clube Vera Cruz, na Abolição, ele pode usar seu smoking sem atrair olhares intrigados. Ali, a música é mais suave, e os figurinos mais requintados. 
 
“Parece que você está em Nova Iorque”, exagera Zé Black, do Som na Caixa.
 
“O cara pode estar duro, mas limpa o sapato com lenço Pierre Cardin.”
 
Para o DJ Corello, da Só Mix. 
 
“As diferenças dividem o movimento Black em duas maneiras de pensar, comportar-se e vestir-se”.
 
Se o charme é uma moda relativamente recente, que pegou de uns cinco anos para cá, o funk já tem uma longa história. 
 
“O movimento já era grande há dez anos. A mídia é que só agora está descobrindo os bailes”, garante Marlboro.
 
O DJ que, com a Soul Grand Prix, promove todos os domingos uma noite de funk no Mourisco. 
 
“Nestes bailes, vão pessoas de todos os níveis. Não tem nariz em pé. Não importa se é rico ou pobre, branco ou preto. O que importa é se sentir bem.”
 
Para Marlboro, na hora de seguir para os bailes, é melhor deixar os preconceitos cm casa. 
 
“Quem tem muita frescura deve ficar em casa vendo TV.”
 

Créditos: Claudio Figueiredo – Ano: 1990

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