Com Funk nas veias

14:00

“O melhor da Furacão 2000” muda o clima das galeras em São Cristóvão. Há pelo menos um lugar do Rio de Janeiro onde os adeptos do movimento funk podem curtir seus artistas prediletos risco zero de se envolver num conflito de galeras. Onde? Em casa, ás 10h dos sábados. Basta ligar na CNT e assistir a “O melhor da Furacão 2000”, programa que Rômulo Costa, 42 anos, dono da maior equipe de som da cidade, comanda ao lado da mulher Verônica. A atração produzida e dirigida por José Carlos Bateau, tem público tão fiel que, mesmo com a venda do horário da rede para a Igreja Universal, está garantida em novo horário — do meio-dia ás 14h — e com meia hora a mais de duração a partir do dia 20 de outubro. Gostou sangue bom? 



Todas as sextas-feiras à tarde o portão da CNT em São Cristóvão parece porta de clube, funkeiros, charmeiros e outros “eiros” das mais diversas facções, bairros e comunidades da cidade formam uma multidão que disputa o privilégio de espremer – se e suar em bicas na pequena arquibancada montada no exíguo estúdio. A afluência é tão grande que a produção passou a distribuir 120 convites nos bailes para as galeras (turmas de funkeiros, geralmente determinadas por localização geográfica) mais comportadas. Mesmo assim, há três semanas, um efetivo da PM foi chamado as pressas para controlar um grupo mais exaltado que não se conformava em ficar de fora. 

Rómulo explica que “o melhor da Furacão 2000”, no ar há três meses, foi criado para mudar a imagem de violência pela qual O movimento funk, que ja conta com quase um milhão de adeptos, ficou marcado. 

“- Procuramos promover a paz e também dar oportunidade a grupos e cantores novos para mostrarem seu trabalho e se lançarem no mercado”, afirma. 

Ele explica que o programa, que custa mensalmente algo em torno de R$10 mil, não tem patrocinadores. 

Nem precisa. Os breaks anunciam os bailes promovidos pelas quatro equipes da Furacão 2000 na cidade, geralmente 15 por fim de semana, custando R$1 mil cada um, o que já garante um bom retorno. Como uma mão lava a outra, a melhor divulgação da atração televisiva é realizada nestes mesmos bailes pelos DJs da equipe, garantindo uma média de 2 pontos de audiência, mesmo enfrentando a forte concorrência do Xuxa Park, na TV Globo. 

A paz entre galeras que Rômulo tenta semear pode ainda não acontecer nas ruas e clubes, mas já foi conquistada no estúdio. Durante a apresentação das oito atrações de cada programa, a plateia, quase toda formada por adolescentes, se comporta muito hem, sacudindo ao som da “Melô do gamadinho” e “Dança da bundinha”, dois dos maiores hits do gênero, e acompanhando ídolos como Billy, uma espécie de Michael Jackson dos funkeiros, só que negro. 

“Nunca tivemos uma briga aqui dentro”, jura Rômulo. 

 “Participar da gravação e a realização para estes jovens”, garante Verônica.

Já acostumada com as (muitas) dezenas de decibéis do som pancadão (de batida forte) a todo volume despejado pelas caixas acústicas, em que predominam o rap, o charme e o funk melody, os dois últimos preferidos pelas minas (meninas) que frequentam as gravações. Na primara fala da arquibancada, Renata

— “Só Renata, sem sobrenome”, faz questão —, moradora da Cidade Alta, no bairro carioca de Cordovil, traduz a filosofia do publico. 

“O funk é moda, ele veio para ficar”, brada, enquanto sua galera grita palavras de ordem. 

Membro da Igreja Universal do Reino de Deus, Rômulo não está preocupado com a mudança de horário provocada pela invasão dos programas produzidos pelo bispo Edir Macedo. 

 “O nosso público é fiel, não vai deixar de assistir”, aposta. 

  Créditos: Jornal do Brasil - Ano: 1994

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