Um show para desesperados

18:45

 Movimento Funk Clube é pai do grito ‘Ah, eu tô maluco!’, que virou mania.



Um homem querendo provar que e maluco sobe num palco, fica de quatro e recebe uma série de “bundadas” no rosto dada por uma dançarina. Tamanhos são os golpes que o enlouquecido acaba perdendo a dentadura. A insólita cena aconteceu numa das apresentações do Movimento Funk Clube (MFC) pelo Brasil. O grupo liderado pelo vocalista peso pesado Vlamir Correa, o Fat Boy, reconhece a paternidade do grito “Ah, eu tô maluco!”, que saiu dos bailes e invadiu as arquibancadas de estádios de futebol. O hit funk é parte da “Montagem do desesperado”, música produzida pelo DJ Purá, da equipe de som Pipo’s. “Ah, eu tô maluco!” substituiu o famoso “Uh tererê” versão brasileira também feita pelo MFC da música “Whoomp! (There it is)”, do grupo americano Tag Team.

“— Estávamos fazendo shows em Fortaleza quando aconteceu a semifinal da Taça Guanabara, no Maracanã. O Flamengo e o Vasco estavam jogando, assim que saiu o primeiro gol, a galera gritou “Ah, eu tô maluco!”. O público era de 80 mil pessoas. O telefone não parava de tocar. Eram amigos nos contando. Em Fortaleza, no Estádio Castelão, a história se repetiu” — lembra o líder cio MFC.

Durante os espetáculos, Fat Boy, com os seus 140 quilos, convida um homem da platéia para que suba ao palco e prove sua insanidade. Depois de comprovada, o voluntário passa a ser “torturado” pelas dançarinas: elas distribuem “bundadas” no rosto e pelo corpo do sujeito.

“— Sempre pergunto se ele é maluco mesmo e se está desesperado. Mas o cara tem que provar a insanidade. Uns dão cambalhotas e outros se jogam no chão. Teve um fá que começou a bater com á cabeça no chão para demostrar a sua loucura. Depois fiquei sabendo que ele havia sido levado para o hospital numa ambulância” — diz Fat Boy.

Antes de rumar para os inusitados shows, o MFC se concentra na Praça Condessa Paulo de Frontin, no Rio Comprido, bairro onde Fat Boy mora. De lá, partem dois carros com os integrantes do grupo. As brincadeiras bizarras e o sucesso do “Ah, eu tô maluco” têm feito aumentar o interesse dos funkeiros no MFC, que já chegou a se apresentar 14 vezes numa só noite. Mas para dar conta do recado o grupo se divide em dois: para um lado vão os vocalistas Fat Boy e Bi MC e as dançarinas Michele, Carla e Rejane; e para o outro seguem Velho e Paulão com Patrícia, Ana Paula e Greice.

Com tantos shows, não faltam histórias engraçadas. E se num o fã perdeu a dentadura, em outro um rapaz acabou ficando em dois dentes.

“— A gente sempre pede que eles mantenham a boca fechada, mas os homens se empolgam. Uma vez a minha irmã, a Michele, estava dando “bundadas” no rosto de um cara que, não sei como, acabou ficando sem dois dentes. Ela ficou com o short todo sujo de sangue” — conta Patrícia.

O MFC se apresenta com dançarinas e faz espetáculos dos quais a plateia participa desde 1995. Dois anos antes, quando as músicas “Cuidado com o tarado”, “Chupa neném” e “Melô da mulher porca” foram sucesso entre funkeiros, quem requebrava o esqueleto eram os próprios vocalistas. Mas o quadro foi alterado por conta dos quilinhos a mais ganhos por Fat Boy.

“— Naquele tempo eu tinha uns 90 quilos. Agora estou com mais uns 50”.

 Já fazendo previsões para um grito substituto do “Ah, eu tô maluco!”, Velho arrisca um palpite:

 “— O “Joga a camisa, joga o boné” vai pegar. No show a gente canta e o público dá objetos para as meninas beijarem e passarem pelo corpo suado”.

Fat Boy aposta em outro:

 “— Acho que vai ser o “Eu tã doidão”, do “Rap do doidão”.


‘Camisa e boné’ e ‘Rap do doidão’ são destaques do CD


Grupo reúne até quatro mil pessoas nos bailes

A irreverência do Movimento Funk Clube (MFC) fez com que o show do grupo, liderado pelo ex-joalheiro Fat Boy, ficasse em cartaz por dez semanas na discoteca Blue Garden, em Pilares. No Clube Nilopolitano, em Nilópolis, o MFC chegou a atrair um público de cerca de quatro mil pessoas.

Depois de ter gravado o vinil “Canto das galeras”, em 1993, com destaque para a música “Melô da mulher porca”, os integrantes do MFC estão novamente em estúdio para lançar, nos próximos dias, o primeiro CD do grupo: “Ah, eu tô maluco!”. Das 14 faixas gravadas, as músicas que fazem maior sucesso nos bailes funk são “Camisa e boné” e “Rap do doidão”.

Nesta última, o grupo canta: “Eu tô doidão/eu tô pancadão/pra tomar na cara/tem que estar maluco/cuidado com elas/vão fazer de tudo/ajoelhe e fique de quatro/mas não fique de lado/se liga no movimento/senão tu sai quebrado/agora a melhor parte/a maior sensação! deite-se no chão/pra dar na cara do negão.

 Créditos: Priscila Guilayn – Ano: 1997


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