A Zona Norte ensina a fazer baile

18:00


A Poderosa Equipe de Som; Este seria o titulo de um filme de Francis Ford Coppola, se ambientado nos subúrbios do Rio de Janeiro.



 A fita começaria com um rápido flash-back: dois ou três rapazes reúnem um toca-discos Garrard, um tape-deck Sony, um amplificador, duas caixas de som e alugam este simplório equipamento para animar as lestas de seus amigos. O filme, então, saltaria pa­ra 1986. Passaram-se 15 anos e estes mesmos rapazes, todos jâ com mais de 30, são agora donos de 10 sofisti­cados equipamentos de som, cada um com 5 mil watts de potência.

Seria ficção se não fosse realidade. É difícil precisar, mas estima-se que em todo Grande Rio 250 clubes ocupam seus salões nos fins de se­mana com bailes e shows. Os 350 mil Jovens que tem nesses eventos a sua única forma de lazer nunca deixam nas bilheterias mais do que Cz$ 20. Sem estrutura para progra­mas desta proporção, os clubes fa­zem acordos com as equipes de som que semanalmente aterrissam nos mais escondidos recantos do Esta­do com toda a sua parafernália de som e luz. Poucos falam cm cifras, rnas o negocio é tão lucrativo que até banqueiros do jogo do bicho, como Carlinhos Maracanã, estão fornecendo a investir no setor.

A equipe de som mais famosa é a Furacão 2000. Já foi ali persona­gem de uma novela. Partido Alto. Ao longo de 12 anos de existência gravou S LPs com seleções de seus maiores sucessos. Em 83, quando o conjunto Kiss velo ao Brasil, a Furacão 2000 foi sondada sobre a possibilidade de alugar seu equipa­mento para o show que os metaleiros fariam no Maracanã. Os donos da equipe recusaram a proposta.

"Ganharíamos 10 vezes mais do que o normal, mas teríamos que deixar o nosso público durante dois fins de semana sem baile", conta Rômulo Costa, um dos sócios.

Ele estima que a Furacão 2000 ocupe atualmente 20% do mercado de bai­les. Todos os domingos eles estão em 10 clubes.de Bonsucesso à Raiz da Serra. Aos sábados, a Furacão 2000 leva seu equipamento a Volta Redonda. Canto do Rio e onde mais for contratada. No total são 120 pessoas trabalhando para o diverti­mento, semanalmente, de 40 mil pessoas.

Com uma estrutura dessas, não foi difícil para Rômulo Costa pro­duzir o ultimo show do grupo RPM no Maracanãzinho, há duas sema­nas, O difícil é conseguir que Rômulo revele o valor de operações desse porte. Mas á possível ter uma ideia. Uma equipe como a Super Quente Disco Clube, infinitamente menor que a Furacão 2000, tem despesas da ordem de Cz$ 12 mil por baile que realiza No Miro's Society Clube, em Jacarepaguá onde concentra a metade de suas forças, a Super Quente envolve e empre­ga 40 pessoas que se dividem entre segurança (do Carlão), porteiros, discotecário, técnico de som, outro de luz e um responsável geral, Os custos não assustam Silvio Rober­to D'Ávila, um dos três sócios,

"Vale a pena", diz com um largo sorri­so. Silvinho. como é conhecido, identifica apenas um Inimigo capaz de atrapalhar seus negócios: as festas Juninas

"Nessa época, o movi­mento dos bailes cai 50% mas esse ano eu vou fazer uma festa Junina dentro do meu clube", explica.

Além da qualidade do som, o que mais diferencia uma boa equi­pe de uma má é o seu "visual", isto e, a decoração e Iluminação dos salões onde se realizam os bailes. Silvinho gastou recentemente Cz$ 20 mil em lâmpadas de neon. Já Instaladas no clube de Jacarepaguá. O discoman Raul, como é co­nhecido o dano de uma das poucas equipes de som na Zona Sul, a da Associação de Servidores Civis, ao lado do Canecão, comprou esta semana, par um valor não revelado, um aparelho capaz, de Iluminar com laser sua pista de dança. A Pop Rio Discoteque, equipe que ocupa dois ambientes do Irajá Atlético Clube, ilumina seu salão principal, o de funk com uma bandeja de 20 spots, seis canhões de 1000 watts cada e oito painéis de argolas de neon. José Maria da Silva, o Zé Maria, dono da Pop Rio estima em Cz$ 300 mil o valor total de seus equipamentos de luz e som.

"No Inicio, era difícil para os clubes admitir que esse trabalho poderia dar resultados", conta Zé Maria. "Mas vendemos a ideia, e nosso trabalho e uma realidade ho­je".

 A Pop Rio atualmente trabalha em três clubes, e tem planos para expandir essa "realidade".

Um objetivo, difícil de realizar, é fazer bailes na Tijuca, ou na "Zona Norte Fina", como explica Zé Maria.

"Ainda existe muita resistência ao nosso trabalho por lá".  

Rômulo Cosia, da Furacão 2000, também sente este problema

"Rescindiram nosso contrato no Clube Municipal, na Tijuca, porque diziam que ia multo crioulo nos bailes".

Na Zona Sul, então, nem pensar.

"Ofereci ao Botafogo", conta Rômulo, “pagar o salário de um Jogador que ganha una Cz$ 10 mil ern troca do salão para bailes. Mas eles ficaram com medo", diz;

"A comunidade da Zona Sul de­veria buscar conhecer a que e feito nos subúrbios", sugere Jorge Alves, um dos dois sócios da equipe Casino Disco Club. de Bangu.

Ele acha que se fosse assim, os que moram em Ipanema, Copacabana e adja­cências teriam a oportunidade de descobrir o charme e o charminho, dois ritmos musicais que começam a superar o funk na preferencia dos frequentadores dos bailes da Zona Norte. Segundo o discotecário Ma­rio Luiz Rodrigues, o linguiça.

“o charme é um funk mais melodioso e o charminho uma música lenta mais corrida".

Jr., sócio de Jorge Alves na Casino Disco Club, define o ritmo de maneira semelhante:

"o charme é uma música mais com­passada, com uma linha melódica mais definida do que o funk".

Os discos com charme e charminho, bem como quase todo d repertório das equipes de som, é importado dos Estados Unidos. Os principais músicos que desenvolvem o char­me são o grupo Juley, SOS Band. as cantoras Cherelle e Eugene Wilde o cantor Leon Bryant.

Do jeito que os negócios estão indo, não será surpresa se os principais donos de equipes, de som se reúnam em tomo de um deles e o elejam, em Novembro, deputado es­tadual. Tudo Indica que o candida­to será Romulo Costa e o partido o PTB, mas ninguém confirma. Da mesma forma, nenhum desses empresários da noite suburbana admi­te publicamente sua irritação com o que considera uma Intromissão" do banqueiro Carlinhos Maracanã, que já inaugurou dois clubes com o objetivo de fazer bailes e shows.

"A gente não poderia apontar jogo do bicho", dizem os donos das equipes. A Poderosa Equipe de Som, o filme que Coppola talvez realize no Bra­sil, está vivendo um momento cru­cial.

Créditos: Maurício Stycer – Jornal do Brasil/1986

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