Funkeiros se tornarão empreendedores individuais

20:35

Sebrae e lideranças do movimento lançarão, em conjunto, cartilha para conscientização


Se é certo dizer que tudo no Brasil acaba em pizza, podemos também afirmar que todas as festas acabam em funk, pelo menos no Rio de Janeiro. O ritmo que caiu no gosto dos brasileiros (e de muitos estrangeiros também) tem por trás uma indústria monstruosa, que, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas, emprega 10 mil pessoas e movimenta, por mês, cerca de R$ 1 milhão. Nada mal para uma cultura marginalizada, alvo de muito preconceito e estigmas.

Mas, por trás das mulheres fruta, mães loiras e das gigantes paredes de som, estão trabalhadores que vivem na informalidade, muito longe da fama e dos flashes. Um deles é MC Leonardo, 36, cantor e compositor que está na indústria do funk há 20 anos. Presidente da Associação dos Profissionais e Amigos do Funk (APAFunk), ele saiu da informalidade há um ano, quando montou uma produtora de audiovisual com seu sócio. Na época, Leonardo procurou o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para obter informações de como se profissionalizar, e se deparou com o empreendedorismo individual. Na hora, percebeu que esta poderia ser uma oportunidade não só para ele (que acabou não se encaixando no perfil), mas para toda a linha de produção do funk.

A Lei do Empreendedor Individual existe há dois anos, e permite que trabalhadores autônomos que ganham até R$ 36 mil por ano possam se formalizar sem custo nenhum. Assim, a pessoa passa a ter um CNPJ, pode emitir nota fiscal, comprar direto do fornecedor, ter acesso a linhas de crédito diferenciadas e participar de licitação. Enfim, é o primeiro passo para fazer o negócio crescer. Contribuindo com cerca de R$ 30 por mês, o trabalhador ainda tem direito a previdência social, por um valor muito abaixo do que ele teria que pagar se contribuísse como autônomo ou trabalhador individual.

"Para nós é um prazer porque eles representam a cultura do Rio"

São mais de 400 atividades cadastradas, mas sem a opção de ‘funkeiro’. Da primeira conversa de Leonardo com o Sebrae, nasceu a ideia de estender esta oportunidade à indústria do funk e mudar isso.

Dessa forma, o dono do baile pode contratar um DJ, um cartazista, um operador de som, todos com nota fiscal. É importante que eles se formalizem, ganhem esse respeito e tenham uma nova forma de se relacionar com o mercado”, explica Carla Teixeira, coordenadora do Programa de Desenvolvimento do Empreendedorismo em Comunidades Pacificadas do Rio de Janeiro do Sebrae.

Na última terça-feira, o Sebrae se reuniu com as lideranças do movimento para discutir como irão dar continuidade a este projeto.

Eles são informais por falta de informação, de apoio. A primeira coisa é ampliar para que essa informação chegue a toda a cadeia produtiva. Vamos fazer uma cartilha sobre a formalização, mas ainda vamos definir como montaremos as estratégias de capacitação, gestão de marketing, controle financeiro, para que eles saibam como gerir o negócio. Para nós é um prazer porque eles representam a cultura do Rio”, diz Carla.

Mc Leonardo está feliz com o entusiasmo de seus colegas de profissão e diz que o trabalho de conscientização vai começar a ser feito pelo topo da cadeia produtiva: os donos das equipes de som. São eles que contratam os profissionais e, por isso, é essencial que entendam a importância da formalização para que possam semear a ideia para o resto de seus contratados.

Todas as culturas do Brasil vivem na informalidade. Temos que tratar a cultura como negócio, com um olhar empreendedor. Se cumprirmos nossos deveres, poderemos cobrar nossos direitos e tirar o funk da marginalidade”, acredita ele.

"A cultura no Brasil é marginalizada"

Leonardo será o responsável por traduzir o conteúdo da cartilha para uma linguagem mais usual na indústria. Como? Em quadrinhos! Assim como a cartilha distribuída há alguns anos sobre direitos autorais, este material será em forma de HQ, “para ficar mais fácil de ler e para caber no bolso, assim eles podem carregar e tirar as dúvidas a qualquer momento”. Perguntado se a formalização poderá diminuir o preconceito que atinge a indústria, o MC é mais cético.

Para mim, quem tem preconceito tem que procurar um psicólogo. Não vamos acabar com ele, mas vamos impedir essa perseguição. Quando se fala de marginalização, se refere a quem está na margem e o funk realmente funciona às margens de crédito, da sociedade. A palavra serve pro funk, mas não só para ele. A cultura no Brasil é marginalizada. Não por ser ilegal, mas por estar à margem até das informações que precisa para sair dessa situação”, opina.

Mc Liano participou da reunião da última terça-feira e quer logo se tornar um empreendedor individual. Aos 30 anos – trabalha na indústria como cantor e compositor desde os 15 – ele conta que a falta de um CNPJ o impede de fechar contrato com prefeituras e governos do Estado quando está viajando pelo Brasil, entre outras coisas.

Trabalhando formalmente a gente consegue mais campos de trabalho e pode ganhar mais reconhecimento. Além disso, podemos participar de leis de incentivo para gravar um CD, um DVD, fazer um show legal”, diz.

Créditos: Annaclara Velasco Jornal do Brasil

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