MC's Claudinho (in memorian) e Buchecha

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A Trajetória

A história de Claudinho e Buchecha é uma prova de que humildes trabalhadores podem conquistar fama e fortuna fazendo o som que o povo quer ouvir. Claudinho (cujo nome verdadeiro é Cláudio Rodrigues de Mattos) era pedreiro e vendia doces no semáforo. Buc hecha (Clausirlei de Souza) era office-boy. Criados na periferia do Rio, eram amigos de infância e freqüentavam rodas de pagode, funk e charme nos arredores do morro do Salgueiro. Buchecha até fez parte de um grupo de pagode chamado Raio de Sol. Em 1993, num festival de baile funk, que escolhia os melhores Mestres de Cerimônias (MCs), os dois acabaram formando uma parceria. Depois, participaram de mais um concurso e ganharam um prêmio com o “Rap do Salgueiro”, um apelo à paz nos bailes funk. Com o sucesso da música, assinaram contrato com a Universal, gravando o primeiro CD e emplacando logo de cara nas rádios com “Conquista”. Era o estouro do funk melody nas classes cariocas mais privilegiadas. Com o segundo disco, chamado A Forma, veio “Quero te Encontrar” e “Xereta”. O terceiro CD teve “Só Love” nas paradas. Agora, com este quarto disco, Claudinho e Buchecha consolidam de vez seu nome no cenário pop do Brasil.

Funk, Suor e animação

Se os trabalhos de estúdio de Claudinho e Buchecha já animam qualquer galera, imagine só um disco gravado em cima do palco, onde os dois interagem com a platéia. Pois é, toda a atmosfera dos shows da dupla está em Claudinho e Buchecha Ao Vivo (Universal), o quarto CD dos rapazes. O disco, um apanhado dos vitoriosos seis anos da carreira, também mostra que eles definitivamente estão entrando numa nova fase, cheia de criatividade e energia. Ainda muito jovens, os dois têm 24 anos, os funkeiros demonstram maturidade e pé no chão.

Apesar de tão pouco tempo de carreira, a dupla rebate as críticas de que lançar um disco ao vivo poderia ser precipitado. “Geralmente, o artista que grava disco ao vivo já tem mais de dez anos de carreira ou está por baixo. Não é o nosso caso”, afirma Claudinho. “Íamos lançar um álbum inédito de estúdio, mas o pessoal da gravadora sugeriu um trabalho ao vivo, depois de ver uma temporada nossa no Metropolitan, no Rio.” A dupla gostou da sugestão. “O que realmente queremos é que as pessoas levem o show do Claudinho e Buchecha para casa.” Como os rapazes são bons de palco e conseguem levantar o público, o CD só precisou de um dia para ser gravado.


Claudinho e Buchecha tiveram ainda outro bom motivo para optar pelo trabalho ao vivo. É que, há cerca de dois anos, eles vêm se apresentando com uma banda própria e queriam que todos pudessem ouvir o som que apresentam no palco. “Como todos sabem, viemos dos bailes funk e não tivemos nenhuma formação musical. Cantávamos apenas em cima de uma base instrumental, o que é bastante normal. Mas cantar com uma banda de verdade é muito mais legal. Dá para improvisar e fazer uma porção de coisas”, conta o animad o Claudinho. “O novo trabalho é também uma boa oportunidade de mostrar ao nosso público que não fazemos mais playback.”

No dia 28 de setembro, os garotos de São Gonçalo, Rio de Janeiro, subiram ao palco do Canecão (tradicional casa de shows do Rio) e detonaram todos os seus grandes hits, músicas que até hoje levantam a galera como “Só Love”, “Xereta”, “Rap do Salgueiro”, “Quero te Encontrar” e “Conquista”. Esta última, abriu as portas para os astros do funk melody. É mesmo emocionante ouvir o público entoar em plenos pulmões “sabe, tchrurururu” ao lado da dupla.

Mas o CD não tem apenas os sucessos radiofônicos. Claudinho e Buchecha também cantam algumas músicas que eles sempre gostaram e que já vinham tocando nos shows, como “Lindo Balão Azul” (de Guilherme Arantes, grande estouro do Balão Mágico) e “Tempos Modernos” (Lulu Santos). Para completar, dão uma nova interpretação a “Carro Velho”, de Ivete Sangalo, que perdeu suas características de axé e virou um agitado funk.

Gravação nos States

O disco só tem uma música inédita: “Coisa de Cinema”, de Cacá Moraes, Buchecha e Abdullah. Essa é, inclusive, a faixa de trabalho do CD. Ela aparece em duas versões: uma ao vivo e outra de estúdio. A canção cita Tarzã e Jane e compara um relacionamento a moroso com o que acontece na tela de cinema. “O Cacá e o Abdullah são duas feras do funk/soul. Já escreveram para Fat Family, Pepê e Nenem e Gabriel, o Pensador. Eles mandaram a música para a gente e eu completei. O resultado está aí”, comenta Buchecha.

E nenhum centavo foi poupado para que a canção virasse sucesso absoluto. Seu clipe foi gravado na Califórnia, na famosa calçada da fama de Los Angeles. Quanto à viagem para os Estados Unidos, os dois são unânimes: “Foi uma experiência e tanto”.Toda essa atribulação é encarada na boa pela dupla. “Estamos finalmente conseguindo nos firmar como artistas e profissionais”, filosofa Claudinho. “Tudo o que aprendemos no mundo da música foi na raça.”

Para se aprimorar musicalmente, a dupla vem estudando muito e tomando aulas de violão e de canto. “A cada CD que a gente lança acontece uma evolução”, observa Claudinho. “Eu mesmo admito que antigamente desafinava pra caramba. Acho que estou muito melhor agora.”

Enquanto Claudinho apura o vocal, seu parceiro Buchecha se preocupa com as composições e com as coreografias. “Cada um tem um dom. O meu é o de escrever. Sei que não canto tão bem quanto o Claudinho. Mas aí é que está a graça da dupla. A gente se completa”, diz.

Para Buchecha, compor não tem mistério. Ele diz que se inspira nos fatos do dia-a-dia para criar suas músicas. “‘Enquanto eu Viver”, por exemplo, foi baseada num momento difícil que o cantor passava com sua mulher e “Nosso Sonho” foi feita para uma fã. “As músicas aparecem assim, em momentos triste ou alegres”, explica. Buchecha também confessa que este pode ser seu futuro: “Se algum dia minha carreira de cantor acabar, vou ficar muito contente em escrever para os o utros.”

O compositor também adora dançar e é o responsável pelas coreografias improvisadas da dupla. “A gente só sacode o corpo”, afirma. Ele conta que as dancinhas também surgem da observação de coisas do cotidiano. A coreografia de “Conquista”, em que os dois apareciam dançando com a mão no nariz, foi baseada nos personagens do desenho Família Dinossauro e virou moda no Brasil inteiro. “O que importa é que o resultado final fique divertido.”

Não à Violência

Outra grande preocupação da dupla é a violência nos bailes funk. Buchecha apoia a CPI que está sendo feita no Rio de Janeiro para moralizar os eventos. “Tudo o que está acontecendo é muito negativo para a cultura do Rio. Estão acabando com o único lazer que a galera mais pobre ainda tem”, afirma. “Tenho orgulho de ser funkeiro. Só que não freqüento mais os bailes por causa da violência.”

Solução existe. Pelo menos é o que acha Buchecha. Ele lança um apelo. “Todo mundo sabe que os bailes são muitas vezes organizados por pessoas totalmente desqualificadas. É preciso haver uma fiscalização severa tanto dentro quanto fora dos salões. Infeliz mente, já não se tocam mais os grandes clássicos do funk. Ao invés disso, ficam tocando músicas que falam ‘a turma do lado A vai porrar a turma do lado B’. O antigo espírito do funk precisa voltar.” Enquanto isso não acontece, a dupla prefere não se apre sentar mais em bailes. Mesmo assim, a agenda continua apertada. Mas, apesar da maratona de shows e gravações, Claudinho e Buchecha acham tempo para fazer o que mais gostam: ficar com a família. Os dois agora estão casados e com filhos pequenos. “Raramente saio. No máximo, bato uma bolinha”, diz Buchecha. Segundo o funkeiro, a dupla gosta de conhecer novas cidades quando está em turnê. “Em São Paulo, por exemplo, também curtimos ficar com amigos como o Netinho do Negritude em locais descontraídos como a casa de samba Consulado da Cerveja.”

Claudinho e Buchecha são os mesmos rapazes batalhadores de anos atrás. A simplicidade ainda corre na veia dos dois e mesmo já tendo uma estabilidade financeira hoje, continuam se preocupando com a situação do País.

Imagino um Brasil melhor no próximo mi lênio, com mais informação e sem crianças abandonadas andando pelas ruas.” Esse é o desejo de Buchecha.


Crédito Foto: Jornal Funk Mania - Texto: Google

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